quinta-feira, 24 de março de 2011

Evolução do papel: Como a China mudou o Ocidente

Papiro estimado em mais de 3000 anos
A evolução dos instrumentos de registro da escrita, que levaram ao papel, se deu de forma lenta e tortuosa, muitas vezes seguindo mais de um caminho no mesmo contexto temporal, envolvendo diferentes situações políticas, culturais e religiosas. Seu mais antigo ancestral direto, o papiro, foi criado no Egito, de uma planta nativa, era o principal meio de transcrever uma informação no Oriente, de onde foi levado através das extensas rotas mercantis, até a Ásia e a Europa, onde se tornou o maior expoente da escrita naquela época.


Porém, devido aos diversos conflitos árabes na região, o comércio de papiro eventualmente se extinguiu, o que levou ao crescimento da presença do pergaminho na Europa, mesmo sendo mais caro. Feito de couro, a sua origem atribui-se à cidade de Pérgamo, hoje localizada na Turquia, onde essa tecnologia, mesmo já sendo conhecida a muito tempo, foi elevada a um patamar de sofisticação muito maior se comparado aos métodos contemporâneos de fabricação do pergaminho, por volta do ano 150 A.C. E esta situação se manteve ao longo de alguns séculos na Europa, onde o papel somente chegou bem mais tarde, por diversos motivos, que são trabalhados abaixo.


Enquanto a Europa sofria com a escassez do papiro e se adaptava ao pergaminho, a China já usufruía do uso de papel há muito tempo. Credita-se o início da sua utilização em larga escala a meados do ano 105 a.C. Deve-se notar, porém, que na China daquela época, o papel não era usado somente como material de produção escrita, mas dividia tanto suas matérias primas como seu uso com os tecidos, sendo usado como biombos e cortinas para separar ambientes, enquanto o hábito de escrever e desenhar em tecido permanecia na sociedade chinesa. Desse ponto, de forma lenta, mas constante, o papel foi sendo introduzido em vários pontos das rotas de comércio entre a Ásia, o Oriente e a Europa. Porém apenas o comércio era efetuado entre as potências, pois a forma de fabricação do papel era um segredo protegido à todo custo. As primeiras fábricas fora da China se estabeleceram na Arábia e na África, em meados do séc. VIII.


Uma das primeiras obras a utilizar papel.
Somente após mais de um milênio pode finalmente o papel atracar em portos europeus, mas não dispõe-se de registro que mencione exatamente quando e aonde, sabendo-se apenas que foi por volta do séc. XI. Porém, devido às constantes disputas entre a Igreja Católica e os potentados árabes, o papel foi praticamente ignorado após a sua chegada, permanecendo a Europa, salvo raras exceções, a utilizar o pergaminho para a escrita. Combinado a esse fator, o alto preço derivado da distância de que era enviado o papel o fizeram rarear no continente, somente tornando-se popular depois que fábricas na Itália e Espanha se estabeleceram no séc XII.

Dali pra frente, a tecnologia e o modo de fabricação do papel foram introduzidos em inúmeros países da Europa, sendo Portugal o último a ter registro de uma fábrica de papel sendo inaugurada. Engraçado é o fato de o Ocidente ter copiado essa tecnologia de um país oriental, fato que hoe ocorre no reverso. Logo o papel se tornou a forma mais barata e confiável de registrar informação, e o resto vocês já sabem.





COSTELLA, ANTONIO F. Comunicação - do grito ao satélite.  ed. Mantiqueira, 2002


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